terça-feira, 29 de maio de 2012

Transporte coletivo, greve e monopólios

Resumo:

Uma greve de proporções alarmantes de novo se alenta na cidade de Florianópolis. Nessa ilha da magia os cidadãos contabilizam perdas enormes de dinheiro, tempo, liberdade e paciência.

Vou criticar nestas linhas o modelo atual, apontando seu defeito fundamental. Se este defeito fosse consertado, teríamos a redução de custos, greves, filas e um maior conforto e benefício para os consumidores do serviço de transporte coletivo.


O que é monopólio

Se os leitores desejarem uma leitura mais abrangente recomendo a fonte que usei nas palavras a seguir.Sennholz () Ela é muito mais completa e profissional que a amadora resenha que se segue. Pois bem. Existem 2 tipos de monopólio, o bom e o mau.

O bom

O que controla o preço de produtos produzidos por monopolistas em um ambiente de mercado livre? Basicamente a concorrência em potencial, ou seja, mesmo que uma empresa fique tão eficiente que apenas ela reste num determinado setor, ela não pode relaxar e começar a cobrar preços ``abusivos'', pois tal atitude criaria espaço para novos empreendedores e empresas de outros setores adentrarem o setor do monopolista.

Em outras palavras:

A concorrência potencial existe em todas as áreas da produção e do comércio em que haja liberdade de entrada; áreas em que qualquer pessoa seja livre para entrar e competir. Em outras palavras, em qualquer setor em que o governo não impeça a livre entrada por meio de licenças, concessões, parcerias e outras formas de controle, a concorrência potencial irá existir. As empresas e os empreendedores estão continuamente em busca de novos itens e novas linhas de produção. Motivados pela busca do lucro e guiados pelo sistema de preços, eles estão constantemente ávidos para empreender em qualquer área pouco explorada cujos rendimentos potenciais sejam atipicamente altos.

Não havendo regulamentações e burocracias governamentais, a incursão em um outro setor da economia exigirá de uma empresa pouco mais do que uma simples reorganização, atualização e aquisição de novos equipamentos, algo que pode ser feito em algumas semanas ou meses. Ou, no extremo, instalações novas podem ser construídas para se empreender uma vigorosa incursão neste novo setor. Assim, um produtor, seja ele um monopolista, um duopolista ou um concorrente dentre vários, estará sempre enfrentando a concorrência potencial de todos os outros produtores existentes no mercado. Sennholz ()

O mau

O mau é resultado da negação direta da concorrência em potencial, através da única entidade capaz de impedir a entrada de novos empreendedores num determinado mercado, o estado. Se esta entidade garantir uma existência confortável aos monopolistas com certeza estes irão se aproveitar de sua posição dominante e enforçar preços muito mais altos do que os encontrados no mercado livre, além da baixa qualidade e serviços oferecidos.

Novamente fazendo uso das palavras de Sennholz ():

o governo efetivamente restringe a concorrência e cria monopólios locais e nacionais. Toda a regulamentação governamental sobre o mercado tem o objetivo de garantir a determinadas empresas — os membros do monopólio, oligopólio ou cartel — uma renda ``justa'', o que significa uma renda bem maior do que aquela que conseguiriam no livre mercado.

A crise do transporte coletivo em Florianópolis

A análise econômica acima nos ajuda a entender a situação do transporte coletivo de Florianópolis da seguinte forma:

A - Existe concessões exclusivas das linhas de Florianópolis, com a prefeitura agindo como guardiã das mesmas.

B - Por causa dessa atitude surgem micro monopólios maus no transporte coletivo na cidade.

C - Os monopólios causam desperdício, mau uso, má qualidade e preços mais altos do que os encontrados em um mercado livre. (vide seção anterior)

Resumindo, o estado garante a posição das empresas de transporte coletivo (junto com seus sindicatos aparelhados), transferindo os impostos dos moradores de Florianópolis para elas e mantendo o preço nas alturas. Um abraço corporativista que garante farto apoio em épocas de eleições, tanto das empresas quanto dos sindicatos dos trabalhadores das mesmas, em troca de uma condição confortável e suculenta para os parasitas sobre rodas.

Conclusão

No nível teórico, a situação do transporte coletivo de Florianópolis é uma ilustração ótima da teoria do monopólio da escola austríaca de economia Rothbard (1970).

No nível prático, nem as empresas nem o sindicato dos trabalhadores são os principais responsáveis pela situação vergonhosa do transporte coletivo em Florianópolis. O responsável é o governo municipal, que através da sua política de concessões, criou monopólios municipais em detrimento do cidadão.

Bibliografia

Murray N. Rothbard.
Man, economy, and state.
1970.
URL http://mises.org/rothbard/mes/chap10a.asp.

Hans F. Sennholz.
Monopólio bom e monopólio ruim - como são gerados e como são mantidos.
URL http://mises.org.br/Article.aspx?id=1057.

2 comentários:

  1. muito bem colocado bellani, parabéns pela argumentação clara e fundamentada.

    Para contribuir de alguma forma com o raciocínio, acredito que seja válida uma análise do sistema Integrado (cof) de transporte público e urbano de Florianópolis, já que, acredito, por sua natureza, opere com número limitado de empresas para cada região (em virtude das licenças e concessões muito bem explicadas no artigo). Vamos em frente:

    Temos um sistema que funciona por "hubs", onde linhas de bairros e praias abastecem grandes terminais que são interligados por linhas principais integrando os terminais. Via de regra, cada grande empresa de transporte tem pelo menos um terminal sob seu controle, podendo ter vários dependendo da área que "atenda".

    A uma análise racional tosca do sistema:
    1) Aproveitamento do tempo: Por operar com grandes linhas que precisam ser abastecidas por diversas outras linhas menores, logicamente, ocorrem desencontros de horários, tanto para quem espera no seu bairro tanto por quem espera por transporte integrador em direção a outro terminal. As grandes linhas precisam ser preenchidas, as linhas menores precisam ser rentáveis, resultado: a coordenação ideal é simplesmente impossível de se realizar, imperfeição a prejuízo do passageiro, que arca com seu tempo os custos do capitalista ineficiente. O mesmo sistema de hubs opera em aeroportos.

    2) Aproveitamento do maquinário: Pela mesma explicação do ítem 1, assim como os passageiros, os veículos passam longos períodos de espera, isto é, sua eficiëncia medida em litros / km percorrido / passageiro entregue fica estagnada por longos períodos, assim como seus respectivos motoristas e cobradores. Outra vez o passageiro paga pela má alocação de recursos produtivos por parte do capitalista.

    3) Qualidade percebida/Valor: Se a qualidade do transporte fosse medida, principalmente, em termos de conforto, não teriamos um crescimento vertiginoso nas linhas aéreas de baixo custo e acomodações enxutas, que tem trajetos de maior duração que qualquer viagem dentro de Florianópolis. Isto é, o maior drive de valor no transporte público é a velocidade, a praticidade, ter a confiança de estar no lugar certo na hora pretendida. Os ingleses não são famosos por suas poltronas, são famosos por sua pontualidade!

    4) Razões: Esse raciocínio acima exposto não é nenhuma grande sacada que acabei de ter, é algo entendido e reconhecido por qualquer operador logístico, sua implantação é fruto de uma estratégia focada no lucro operacional, quando, na verdade, se o sistema se chama TRANSPORTE PÚBLICO, está havendo um claro conflito de idéias na própria epistemologia da questão; de público ele não tem nada.

    abs
    gringo

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  2. "Durante o dia, os ônibus não circularam pela região e o Ministério Público do Trabalho encaminhou uma solicitação à Justiça para que circulasse 100% da frota durante os horários de pico. O sindicato trabalhista alega que quer cumprir a decisão, se a Justiça liberar que eles trafeguem com a "catraca aberta", ou seja, os passageiros não paguem a passagem." fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/05/28/motoristas-e-conbradores-de-floruianopolis-param-por-24-horas.htm

    Esse trecho mostra exatamente quem perde e quem ganha com o transporte público. Apesar de não estar explícito na matéria, é óbvio que a 'Justiça' e as empresas riram da expressão "catraca aberta", assim prejudicando mais de 200 mil pessoas por mais alguns dias.

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